Os 400 golpes do IHAC

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Os 400 componentes curriculares oferecidos pela UFBA ao IHAC, no semestre de 2009.2, no intuito de vetorizar discursos mit-disciplinares (sic), produzem um grande oceano das semelhanças e servem para refletir o quão fragilizados se mostram os projetos pedagógicos de cada bacharelado interdisciplinar. Antes de se discutir as lacunas apontadas pela Câmara de Graduação, que mostram, em parte, os deslizes de cada tessitura, os projetos dos BIs foram inundados por uma poderosa tormenta. Esta grande agitação provocada pela “generosa” oferta dos componentes curriculares é fruto da necessidade do próprio IHAC em proclamar-se diferente e de precisar publicizar suas enunciações.

 

Os alunos do IHAC poderiam representar muito bem o papel de Antoine Doinel, personagem autobiográfico de François Truffaut, em Les quatre cents coups. Eles estão aptos a encenar os ligeiros passos finais que esboçam, diante a tantas veredas disciplinadas imposta à trama, o percurso para a descoberta primeva do mar. Porém, por mais que se imagine que o horizonte que se desvela produzirá uma prazerosa sensação de liberdade, esta marcação vetorizada do oceano os forçará inevitavelmente a um retorno às evidências do mundo real: é preciso defrontar-se com os limites entre o que se busca e o que se é ofertado.

 

Estas precipitações se repetem, de forma indiferenciada, em cada “aprovação” da congregação do IHAC que imediatamente é midiatizada para fazer valer a voz imperial de um projeto. Entre os 400 golpes curriculares oferecidos em prol da liberdade de escolha de cada Antoine Doinel matriculado no IHAC, se desenha suas desastrosas implicações futuras, seus recortes disciplinados sem liga, suas tramas malfazejas. A tão sonhada liberdade em prol de “novas” e inusitadas formações, produz-se a partir da prisão vetorial, fruto de um projeto pedagógico deficitário. A mega-oferta dos componentes curriculares, como se fossem gotas artificiais que compõem este confuso oceano, torna-se também responsável por produzir a grande evasão, a olhos vistos, dos alunos do IHAC.

2 Respostas to “Os 400 golpes do IHAC”

  1. Murilo Almeida Says:

    Tal como Doinel, acenderemos velas no relicário de Balzac.

    Mas só para vê-lo se consumindo em chamas, como já sabemos que acontecerá, admito.

  2. pedro laurentino Says:

    Os 400 golpes só não foram mais pesados porque não existiram. Não existem 400 componentes curriculares, seja lá qual for a entorse que alguém queira aplicar a essa nomenclatrua, à disposição dos Bi do Ihac. Seria dizer que cada curso tem para si 100 componentes distintos, mais os 300 dos demais somados, à disposição para que seus alunos cursem. Temos assistido a um incessante bombardeio de números relacionados ao ihac: novas vagas, bolsistas, candidatos ao futuro ihaquiano póscultura, atual programa da facom mas que já empresta os louros a glória ao instituto. Talvez porque os boletins sejam elaborados por alunos inexperientes, talvez porque alguém esteja buscando essa repercussão. Qui sait?

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